sexta-feira, 15 de maio de 2009

By professor3f

A importância da educação emocional para a docência no ensino superior

A educação emocional refere-se à possibilidade e ação pedagógica sobre o aprendizado emocional, ou seja, aprender a regular as emoções (positivas e negativas), atenuando-as ou intensificando-as. Sendo essencial a percepção, identificação, rotulação e compreensão dos eventos emocionais. Todos esses processos devem ser amadurecidos e organizados, ou mesmo aprendidos. Quando as habilidades e competências sócio-emocionais não são desenvolvidas, têm-se adultos insensíveis e indiferentes à dor e aos sofrimentos alheios, inclusive quando estes são causados por si mesmo. (Périssé, 2007)
Brearley (2004) afirma que para romper as barreiras do aprendizado, seria preciso fazer os alunos aprenderem a usar sua Inteligência Emocional, tornando-os capazes de atingir seu sucesso. A escola deveria capacitar todas as crianças a tornar-se emocionalmente educadas, sendo capazes de descrever seus sentimentos e compreendê-los, tanto para elas mesmas como para os outros. E, ainda, que todas as crianças se tornariam líderes de seu próprio aprendizado emocional, capazes de usar sua força para construir relações e criar oportunidades para o aprendizado mágico e seu crescimento pessoal.
Rego & Andrade (2009) estimulam refletir sobre que contribuições o estudo da consciência e da inteligência emocional pode oferecer à prática pedagógica dos docentes, que favoreça a formação e o desenvolvimento integral do ser humano?
Rego & Andrade (2009) enfatizam que a educação deve fazer uso da consciência e da inteligência emocional na prática pedagógica, buscando contribuir efetivamente, para a formação integral do Ser Humano, possibilitando com isso, formar indivíduos conscientes do seu papel no mundo, contrapondo-se ao que se observa hoje na educação, que é a fragmentação do ser. E defendem a consciência como de fundamental importância para ser discutida no cenário acadêmico e fora dele, possibilitando assim, o aprofundamento, o crescimento e a expansão de uma vivência mais consciente.
Inteligência emocional consiste na capacidade de perceber emoções, relacionar sentimentos parecidos, compreender as informações contidas nessas emoções e administrá-las (Mayer, Caruso & Salovey apud Miguel & Noronha, 2006).
Para desenvolver a inteligência emocional e aprender a aprender podemos considerar três aspectos: (01) seqüência do aprendizado, (02) o processo de aprendizado, e (03) os níveis de aprendizado. (Brearley, 2004)
O aprendizado apresenta uma seqüência cíclica que pode começar com a percepção da sala de aula, e seguir por a resposta emocional, o raciocínio, o comportamento e a memória emocional. Nesta progressão, intervenções podem facilitar o processo. (Brearley, 2004)
No processo de aprendizagem, além de intervir na percepção dos aprendizes em relação à sala de aula, podemos intervir na resposta emocional que é conferida. Freqüentemente manejamos de forma inadequada este processo. Isso fica evidente na forma com a qual as escolas freqüentemente conduzem os exames, associados a estresse, medo, ansiedade e fracasso. (Brearley, 2004)
Os níveis de aprendizado constituem a terceira base da construção do aprendizado. Ambiente, comportamento, capacidade, crença, identidade, espiritualidade constituem estes níveis. (Brearley, 2004)
A educação, por sua vez, tem um papel bem concreto a desempenhar: desenvolver o discernimento humano em uma constante harmonização do espiritual, do mental e do físico. O relatório da UNESCO da comissão Internacional sobre educação para o séc. XXI defende quatro pilares da educação, que são: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos; e aprender a ser. O que, na percepção de Rego & Andrade (2009), configura uma educação integral.
Rego & Andrade (2009) avaliam que educar é extrair do educando tudo aquilo que ele traz em si mesmo, na forma de potência, fazendo com que ele se revele através do que possui, exercitando a conquista de si mesmo e do conhecimento. E que para educar precisam-se ter educadores, ou seja, pessoas conscientes que sua atuação é de orientador, estimulador, com muito amor pela tarefa da educação e com sensibilidade para saber trabalhar as diferenças apresentadas pelos educandos.
A consciência e a inteligência emocional são pressupostos basilares para favorecer a formação e o desenvolvimento integral do ser humano, afinal, possibilitam aos docentes uma prática pedagógica mais consciente e formas de intervenção cada vez mais significativas e eficazes. (Rego & Andrade, 2009)
Em educação, esse paradigma pressupõe integrar no homem o que foi fragmentado, ou seja, unificar razão, emoção, cognição, intuição, corpo, mente e espírito (intersubjetividade), tornando-se um modelo abrangente de ser-na, pensar-sobre e viver a realidade. Apesar da conotação espiritual na teoria integral, esta não está desvinculada do pensamento crítico e da ação social, apenas acrescenta a sabedoria como mediadora das ações práticas, onde o tributo à não-violência, seja simbólica ou física, é fundamental. (Rego & Andrade, 2009)
Pereira & Pereira (2006) afirmam que a universidade precisa abandonar a rigidez de idéias e posturas que não condizem mais às necessidades imediatas e criar novas formas de encaminhar sua prática educativa. Que é necessário que as posturas acadêmicas e científicas estejam em ritmo de transformação para dar lugar ao novo paradigma de uma sociedade crítica. Argumentam que a realidade impõe uma educação que contribua na formação do homem crítico e criativo; uma formação mais polivalente, flexível e centrada na capacidade de adaptação a situações diversas e na solução de problemas. E, ainda que a formação deva potencializar a maturidade e o comprometimento ético e político do indivíduo. Que se requisita uma educação que ensine o aluno a pensar, ao invés de simplesmente lhe ensinar idéias e conhecimentos acumulados pela humanidade.
Segundo Pereira & Pereira (2006), muitos professores acreditam que ensinar se aprende na prática, com a experiência e que a formação pedagógica são desnecessários. No entanto, a questão básica do ensino não é explicar bem o conteúdo, mas como encaminhar o ensino a fim de que seja integrado em um conjunto significativo de conhecimentos, de habilidade e de atitudes, por parte do aluno.
Pereira & Pereira (2006) citam Candau, quando informam que a formação de professores supõe um enfoque multimensional, e que na formação o científico, o político e o afetivo devem estar intimamente articulados entre si e com o pedagógico. E analisam que o currículo abrange a aprendizagem de habilidades sociais como, por exemplo, trabalhar em equipe, relacionar-se com os colegas e com pessoas que não pertencem ao ambiente escolar.
Pereira & Pereira (2006) concluem que a docência no ensino superior ganha nova dimensão pelas funções que lhe são requisitadas pela sociedade. O compromisso do professor com o ensino ultrapassa as exigências meramente técnicas ou de domínio de conteúdo específico para situar a educação como elemento importante na dinâmica social.
Considerações finais
A formação do ser humano no espaço educacional escolar revela-se, na interação entre educando-educador, um processo intenso e complexo. Embora, esta relação esteja contextualizada no processo ensino aprendizagem centrada na figura do educando, ambos os atores se transformam e sofrem os seus efeitos. Se se deseja que a inteligência emocional seja desenvolvida nos aprendizes, contribuindo para a formação de um ser humano integral, deve-se construir também os alicerces desta inteligência no educador. Isto só será possível em um ambiente que não aliene o ser humano, portanto, que considere os seus sonhos, desejos e visão da realidade. É necessária, desta forma, uma grande reestruturação dos modelos educacionais, inclusive (e especialmente) no processo avaliativo dos componentes deste binômio. É preciso que se reconsidere o valor do processo ensino-aprendizagem, sem se tornar míope ao enfocar os resultados. Enfaticamente e citando Brearley (2004):
“O aprendizado é um processo que tem tanto amplitude quanto profundidade, embora geralmente o aprendizado na escola seja reduzido ao seu produto final: resultado. A magia e o poder do aprendizado estão no processo, e os resultados bem-sucedidos são assim uma conseqüência natural desse foco. Buscar resultados não nos ajuda a entender o processo. Buscar os resultados do aprendizado bloqueia de forma ativa nossa capacidade de ver aquilo de que precisamos do processo de aprendizado. Almejamos o destino à custa da jornada, e a conseqüência é que, paradoxalmente, quase sempre não chegamos onde desejamos e certamente não chegamos onde precisamos chegar.”


Referências Bibliográficas

1. Périssé, Paulo. Educação Emocional. O Portal da Educação. Educare.pt. disponível em: . Acessado em: 14 de maio de 2009.
2. Brearley, M. Inteligência emocional na Sala de Aula – Estratégias de aprendizado criativo para alunos entre 11 e 18 anos de idade. São Paulo, Madras, 2004.
3. Rêgo, Claudia Brunelli; Andrade, Viviane Almeida. A Consciência e a Inteligência Emocional na Prática Pedagógica do Ensino Superior: Pressupostos Básicos para a Formação e o Desenvolvimento Integral do Ser Humano. Artigos.com. disponível em http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/a-consciencia-e-a-inteligencia-emocional-na-pratica-pedagogica-do-ensino-superior:-pressupostos-basicos-para-a-formacao-e-o-desenvolvimento-integral-do-ser-humano-905/artigo/ . Acessado em 02 de maio de 2009. 09:20 horas.
4. Miguel, F.K., & Noronha, A.P.P. (2006). Estudo da Inteligência Emocional em Cursos Universitários. Em: A.P. Soares, S. Araújo & S. Caires (Orgs.). Avaliação Psicológica: Formas e Contextos. Braga - Portugal: Psiquilíbrios. 613-619.
5. Pereira, R.C.B.; Pereira, R.O. A questão da docência no ensino superior. Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”. Universidade Federal de Juiz de Fora. 2006.

Um comentário:

Pedro Adjedan disse...

Parabéns Prof. Flávio

excelente texto... uma reflexão de cunho científico...