domingo, 17 de maio de 2009

EDUCAÇÃO EMOCIONAL

EDUCAÇÃO EMOCIONAL

A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO EMOCIONAL PARA A DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

NOVAS REFLEXÕES METODOLÓGICAS PARA UMA BOA PRÁTICA EDUCATIVA NO ENSINO SUPERIOR

Pedro Adjedan David de Sousa

Os paradigmas da modernidade estabelecidos pelo pensamento consolidado mundialmente a partir da Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII, a serem considerados como uma verdadeira “mudança de valores sócio-culturais” que teve como pressuposto básico a disseminação do capitalismo industrial, fez surgir uma sociedade fundamentada em princípios mecanicistas, ocorrendo a valoração exacerbada do acúmulo de capital e, por consequência, o surgimento de um indivíduo destituído de algumas qualidades ou características intrínsecas ao que passamos a chamar de homem pós-moderno, aquele que possui uma determinada completude para engendrar novas práticas e conceituações dinâmicas a respeito de suas relações pessoais e profissionais, inserindo-se no ritmo transformador da pós-modernidade.

A mudança de valores, as transformações de identidade, a alta produtividade e a busca pela qualidade total em todos os setores, ocorrem sob o prisma da modernidade que segundo Stuart Hall faz emergir “uma concepção mais social do sujeito. O indivíduo passou a ser visto como mais localizado e definido no interior dessas grandes estruturas e formações sustentadoras da sociedade moderna.” Essas mudanças trazem ao novo século, o século XXI uma revolução cultural silenciosa, que tenta involuntariamente desprender-se de conceitos ideológicos que transcendem desde o processo colonizador, especialmente dos sistemas implantados pela colonização ibérica. Talvez estejamos iniciando uma reforma estrutural nas sociedades futuras que darão a configuração adequada ao que passamos a chamar de pós-modernidade.

Ainda segundo Stuart Hall, “as transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas”. Essas transformações significam, portanto, o rompimento necessário com estruturas primordiais de pensamento político, econômico, religioso e coletivo para o surgimento de um “novo” indivíduo, mais racional, participativo, flexível, dinâmico, estabelecendo um equilíbrio entre o cérebro racional e o cérebro emocional fazendo nascer um sujeito acima de tudo autoconsciente, que tem o poder e o controle do autoconhecimento para a devida compreensão e aceitação do outro. Estamos estruturando uma sociedade mais complexa com base nessas transformações.

A tal completude a que devemos nos referir a partir de então, não deve ser vista por um ângulo não empático, como se fossemos apreciar o nascimento do “super-homem”, um indivíduo completamente uniformizado e constituído das mais acentuadas qualidades que um ser humano possa vir a ter.

A palavra completo se tratando de um adjetivo está definida no dicionário Aurélio como o que não falta nada do que pode ou deve ter; preenchido, concluído, entretanto, procuraremos dá uma maior flexibilidade a este termo considerando as habilidades de complementaridade que se faz necessária nesse novo tempo. Essa necessidade de complementação é exatamente o que precisamos compreender, é a dinâmica que devemos ter para iniciarmos o nosso desenvolvimento integral que sustenta-se primordialmente na autoconsciência, que por sua vez, possui uma base de formação centrada no princípio da identificação de cinco pilares substanciais para esse desenvolvimento: a identificação dos sentidos, dos atos, dos sentimento, das intenções e de avaliações necessárias ao entendimento do próprio eu. A partir daí é constituída, portanto, a identidade cultural, por meio da qual o indivíduo passa a adquirir a consciência do ser para compreender e aceitar as adversidades, tendo em vista que só através do autoconhecimento, da autoconsciência, é que iremos obter a sensibilidade necessária para o entendimento e a aceitação do outro.

Este é o cenário adequado para iniciarmos o nosso entendimento sobre a importância da educação emocional para a docência no ensino superior. Podemos afirmar seguramente que o processo de aprendizagem do indivíduo perpassa pelo seu estado emocional, considerando que o ser é aquilo que ele pensa de acordo com um determinado nível de consciência. É aqui que surge o uso inteligente das emoções, após a identificação correta dos pilares da autoconsciência e a utilização, o aproveitamento de habilidades diversas e o respeito às individualidades no processo de ensino aprendizagem. A partir de uma análise simplista observamos que a autoconsciência consolida-se como uma base de sustentabilidade para outros quatro elementos imprescindíveis que em conjunto dão a forma adequada à Inteligência Emocional, quais sejam: administração das emoções, automotivação, empatia e sociabilidade. O poder da inteligência emocional, centrado nesses cinco pressupostos básicos, torna-se transformador, faz surgir lideranças e traz a completude a que nos referimos anteriormente, necessária ao desenvolvimento integral do ser.

Daniel Goleman afirma que

“os grandes líderes nos mobilizam. Inflamam nossa paixão e inspiram o melhor dentro de nós. Quando tentamos explicar a causa de tamanha eficácia, pensamos em estratégia, visão ou idéias poderosas. Na realidade, porém, eles atuam em um nível mais fundamental: os grandes líderes agem por meio das emoções.” (GOLEMAN, 2002. pág. 3)

Este é o sentido lógico, matemático da Inteligência Emocional. A partir da administração das emoções os indivíduos têm a condição ideal para estabelecer parâmetros de liderança otimizados. Neste caso, os grandes líderes possuem a completude, o autoconhecimento, a sua inteligência é, portanto emocional, fundamentada nos cinco pressupostos básicos constitutivos de uma educação que possui a propriedade qualitativa do individuo desenvolvido integralmente: a educação emocional.

Considerando assim, esta nova concepção do ser, do líder propriamente dito, canalizamos então tais características para a prática docente no ensino superior, consolidando ainda mais a importância da educação emocional nesta modalidade de ensino. Os profissionais docentes deste nível de ensino devem se ver como os líderes apontados por Goleman. Senão, vejamos:

“A facilidade com que percebemos os estados emocionais de nossos líderes, pois, está ligada à capacidade de seus rostos, vozes e gestos expressarem seus sentimentos. Quanto maior a habilidade do líder na transmissão de emoções, maior a intensidade com que estas vão se disseminar.” .” (GOLEMAN, 2002. pág. 9)

Na prática docente está explícita a prática de liderança, por conseguinte, a figura do docente é tida como a figura sólida de um líder, desde que ele possua as qualidades necessárias para as devidas provocações que vão fazer com o que os seus seguidores (os discentes) possam tripudiar emocionalmente diante de sua oratória explicativa, levando em conta os pilares da inteligência emocional na sua prática. Tal é o poder expressivo da liderança na docência em sala de aula pelas suas características emocionais, que os educandos interagem de forma eficaz nas discussões e não são bloqueados na diversidade do processo de ensino-aprendizagem, por força da identificação das mais variadas habilidades de cada indivíduo. É assim que se caracteriza um líder docente que se desprende de conceitos e ações pedagógicas antigas dando espaço para a construção de uma formação pautada pela educação emocional, especialmente no ensino superior, que até então possui sérias resistências para entender a competência emocional dos educandos, que segundo GOLEMAN, 1999:

“muitos indícios atestam que as pessoas emocionalmente competentes – que reconhecem e lidam bem com os próprios sentimentos e com o de outras pessoas – levam vantagem em qualquer campo da vida, assimilando as regras tácitas que governam o sucesso na política organizacional.”

Já que a sociedade é regida por determinadas regras implícitas, principalmente as sociedades acadêmicas, bem como os meios mercadológicos competitivos a Docência do Ensino Superior deve desprender-se das antigas práticas associadas ao mecanicismo e inserir no seu processo de ensino-aprendizagem todos os pressupostos da Educação Emocional, dando início a formação de indivíduos educandos possuidores da completude necessária aos profissionais do novo século, que buscam qualidade total e a excelência no surgimento de um novo mundo acadêmico, pós-moderno.

A Educação Emocional, portanto, não é importante apenas pela implementação de novas práticas e métodos nos sistemas de ensino, mas, acima de tudo, pelo seu poder formador e transformador, através da “transgressão” de conceitos antigos e a aplicação de um processo de ensino-aprendizagem mais completo e dinâmico que possa acompanhar com a rapidez necessária as mutações que o tempo impõe às sociedades.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

GOLEMAN, Daniel e outros autores. O poder da inteligência emocional. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

GOLEMAN, Daniel. Entrevista. Disponível por www.abrae.com.br, 1999.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

Outras Fontes:

PROFª Maria Iara Henrique Palácio. Especialização Lato Senso em Docência do Ensino Superior – Material Didático (Apostila) – Disciplina: A Educação Emocional na Prática Educativa.

2 comentários:

Educador disse...

Parabéns pelo artigo!
Li todo ele. Acrescento que Daniel Goleman sempre deve ser lido por ser um dos mais cotemporânio na abordagem dos conceitos referente a inteligência emocional. Seus argumentos irá muito além de seu tempo.
Pr. Alexandre Lima

Flávio Furtado de Farias disse...

Adjedan, a sua contextualização do homem e de sua interação com o meio, dependente sempre de um processo histórico, e a avaliação do papel inspirador do educador coloca-nos diante de nossas responsabilidades. E quê tamanha responsabilidade, não é?